2 de ago. de 2010

Cabine de Comando

Foram poucas as vezes em que eu entrei ali, aquele quarto sempre foi meio que proibido para as crianças e justamente por isso tinha um ar de mistério. Toda vez que o meu avô me pedia para pegar alguma coisa no quarto, era quase como ganhar um prêmio. E depois que cresci continuei sem entrar lá. A 'cabine de comando' impunha respeito. O resto da casa era toda nossa, os netos, mas aquele quarto era reservado para o nosso Capitão. E hoje, mesmo depois de um ano que o meu avô morreu, eu ainda não consigo entrar naquele quarto e o encarar como mais um aposento da casa e ainda que eu tente entrar lá com a maior naturalidade possível, toda vez que eu passo por aquela porta eu me sinto de novo como uma criança fazendo uma travessura, me sinto como nas vezes em que eu entrava lá escondido só para dar uma espiadinha no lugar onde o meu avô se escondia e logo depois saía correndo com medo de que alguém me descobrisse. Ainda me sinto assim, como se eu não tivesse o direito de estar ali e por mais que o quarto tenha outro ocupante agora, para mim ele vai sempre ser a 'cabine de comando', o quarto do meu Capitão: o meu avô!